Dirigentes sindicais do SindBancários e da Fetrafi-RS estiveram na terça-feira, 11 de junho, com o diretor de articulação econômica da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Ronaldo Zulke, para sugerir estratégias que potencializem os programas de apoio à reconstrução do estado, após a calamidade de maio.
Os bancários levaram propostas de como acreditam que os bancos do estado – Banrisul e Badesul – podem auxiliar na distribuição dos recursos para quem realmente precisa e, consequentemente aliviar a pressão e a sobrecarga que vem recaindo sobre os empregados da Caixa Econômica Federal, responsável pelo pagamento dos auxílios extraordinários aos moradores das regiões atingidas pela tragédia. “Queremos ajudar a potencializar os programas do governo federal e destinar esses recursos para o lugar certo”, iniciou o presidente do SindBancários Porto Alegre e Região, Luciano Fetzner.
Uma das sugestões levantadas na reunião é a de que o Banrisul e o Badesul possam assumir alguns pagamentos de auxílios extraordinários e fazê-los chegar em todas as localidades onde é necessário, bem como aos pequenos agricultores e microempresários, bastante atingidos pelas chuvas. “Nos preocupa a capilaridade de chegar não só no cliente, mas nos lugares onde outros bancos não chegam. Temos os dois bancos do estado, principalmente o Banrisul, que podem entregar esses recursos de forma mais rápida e, ainda, ajudar a segurar as pontas dos bancos nacionais, onde os colegas já estão sobrecarregados”, pontuou Fetzner. Na opinião do dirigente, essa ação também contribuiria para garantir a saúde dos bancos públicos estaduais, que são ferramentas fundamentais para a execução de políticas públicas e provavelmente terão resultados ruins a partir da tragédia.
O diretor da Fetrafi-RS e funcionário do Banrisul, Fábio Soares completou, destacando que alguns programas do governo federal precisam chegar às localidades mais distantes, o que seria possível com o Banrisul, banco com o maior número de agências no estado. “Vários programas podem passar pelo Banrisul, inclusive o Pronampe (de apoio às microempresas e empresas de pequeno porte). Precisamos fazer com que todos conheçam e acessem os programas federais”, pontuou.
Um problema que tem barrado a distribuição dos recursos destinados pelo governo federal ao estado são os critérios da análise de risco para concessão de crédito, especialmente aos pequenos empresários e produtores do estado. De acordo com a diretora da Fetrafi-RS Priscila Aguirres, no Banco do Brasil, os colegas estão com dificuldade de conceder crédito aos clientes que realmente precisam por conta do regramento entre instituições.
“Do jeito que a análise de risco é feita não tem como estabelecer relacionamento com os clientes prioritários neste momento, pois um dos problemas é a falta da comprovação do rendimento da empresa. É preciso criar uma exceção na análise de crédito para que se cumpra a determinação do governo federal de apoio aos pequenos empresários”, destacou Priscila Aguirres.
A diretora da Fetrafi-RS Sabrina Muniz, da Caixa, também opinou que o regramento precisa ser flexibilizado a fim de proteger os trabalhadores que precisam acessar os recursos. Além disso, ela acredita que a Caixa deva seguir por um bom tempo com o foco prioritário no papel social. “As metas da Caixa foram desoneradas e o foco agora são os programas sociais. Já foi apontado dentro do banco que essa prioridade segue até o fim do mês. É preciso prorrogar essa determinação. Não adianta se colocar uma pressão em cima do sistema financeiro como se tudo estivesse normal, quando na verdade não está”, enfatizou.
A diretora da Fetrafi-RS Raquel Gil de Oliveira, que é do Banrisul, lembrou que existe uma dificuldade também por parte dos agricultores familiares no acesso aos recursos do governo federal, uma vez que muitos deles ainda não tem a posse da terra, o que seria a garantia exigida pelos bancos para concessão de crédito. “As regras dos programas para os agricultores também precisam ser flexibilizadas”, opinou.
Outra preocupação transformada em proposta pelos sindicalistas diz respeito à sobrecarga que os colegas, especialmente da Caixa, estão enfrentando. A exemplo do que ocorreu na pandemia, a maioria dos auxílios concedidos às vítimas da tragédia passam pelo banco federal.
Além da sobrecarga, Sabrina Muniz apontou que há relatos de colegas que estão emocionalmente abalados com o atendimento às vítimas da tragédia. Isso tem afetado a saúde mental e física de trabalhadores bancários.
Por outro lado, a segurança também fica fragilizada neste momento, pois a frustração da não concessão do crédito às pessoas que precisam, seja por falta de margem ou por uma análise mais criteriosa de risco, acabam por causar revolta em clientes mais exaltados.
“Temos que marcar uma reunião com a direção da Caixa e do Banco do Brasil para buscar regras mais flexíveis e aliviar colegas que estão pressionados pelos clientes. Há uma determinação do governo de ajudar os pequenos, mas poucos têm condições de crédito. Está se criando um impasse e isso deixa os bancários expostos”, enfatizou Mauro Salles, secretário de Saúde da Contraf-CUT.
Ronaldo Zulke se comprometeu, enquanto representante da Secretaria Especial, a cobrar dos superintendentes dos bancos públicos que cumpram a decisão do governo Lula em dar prioridade aos programas sociais e, assim, buscar soluções às questões que dificultam o crédito.
O presidente do SindBancários manifestou outros pontos de atenção com a restruturação do estado: o direcionamento do orçamento para programas de sustentabilidade e ecológicos e o destino dos recursos que advém da suspensão dos juros da dívida do estado com a União por três anos. “É justo que esses recursos sejam destinados à recuperação das empresas públicas, mas estamos vendo o dinheiro escorrer pelo capital privado”, disse. Por sugestão de Zulke, o movimento sindical vai verificar o andamento da questão junto ao comitê gestor do Fundo do Plano Rio Grande que foi criado para classificar, centralizar e angariar recursos destinados ao enfrentamento das consequências sociais, econômicas e ambientais decorrentes dos eventos meteorológicos ocorridos no Estado em 2023 e 2024. “Talvez a Federação (dos bancários) possa indicar empresas públicas para receber os recursos”, sugeriu.
Por último, os representantes dos bancários levaram ao conhecimento do diretor de articulação econômica da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do RS, a mudança na CGPAR 52, que atingiu os colegas da Caixa, transformando empréstimos sem juros em adiantamento salarial sem juros, o que acarreta desconto de imposto de renda dentro da alíquota de 27,5%. “Foi uma mudança na norma que prejudicou os colegas, que estão sendo essenciais para o povo gaúcho neste momento tão difícil”, reforçou Sabrina Muniz. Este assunto também constará em uma série de sugestões para melhoria das propostas de apoio do governo federal às vítimas da enchente.
Aline Adolphs/SindBancários