Durante a reunião do Comando Nacional dos Banrisulenses, na sexta-feira (3/11), Raquel Gil de Oliveira, diretora da Fetrafi-RS, fez um relato detalhado da última reunião com o Banrisul, no dia 31 de outubro, em que não houve avanço. “Na reunião do dia 16 de outubro, representantes dos(as) trabalhadores(as) foram muito objetivos ao focar em três aspectos adoecedores: a mudança constante nas metas, o atrelamento da pontuação à adimplência do cliente e a chamada meta negativa. Através de ofício e durante o encontro foram solicitados documentos importantes ao banco, para que fosse possível desenhar um panorama mais fiel da situação, uma vez que os dados até então fornecidos são insuficientes. Duas semanas depois, no dia 31 de outubro, os negociadores do Banrisul chegaram de mãos vazias e deram respostas evasivas, fazendo com que o diálogo não avançasse”, informou a sindicalista.
Luciano Fetzner, presidente do SindBancários Porto Alegre e Região, apontou como ilegal a prática do Banrisul de descontar pontuação do(a) funcionário(a) quando o cliente fica em débito com banco. “Inadimplência do cliente não é culpa do trabalhador e não pode ser utilizada para penalizá-lo. E quem calcula o risco na hora de conceder um empréstimo é o banco e não o empregado. Eles vão ter que recuar nessa questão”, disse. O sindicalista reafirmou que a crise que o Banrisul diz estar passando hoje é responsabilidade da má gestão e “não pode cair nas costas dos trabalhadores”.
Em seu relato, Ana Betim, diretora da Fetrafi-RS, disse que os negociadores do Banco afirmaram na última reunião que não há como recuar no desconto de pontuação quando há pendência na carteira, uma vez que a prática já faz parte da política de gestão do Banrisul. “Não somos contra as metas, mas contra a abusividade, isso deixamos muito claro para o banco”, enfatizou.
Outro aspecto abordado na reunião do Comando foi a falta de lógica em algumas metas. Letícia Raddatz, presidenta do Sindicato dos Bancários de Santa Rosa, contou que o pessoal que atende PJ têm que bater uma meta absurda de abertura de novas contas, em um contexto que todas as empresas já têm conta em banco. “Eles vão ampliar como? Vão fazer uma parceria com a Prefeitura para incentivar a abertura de novas empresas? A situação é tão desesperadora que mesmo os colegas batedores de metas estão jogando a toalha. Isso me parece um sintoma claro de adoecimento, que tem a ver com desesperança”.
Alisson Droppa, do Dieese, apresentou um gráfico no qual no primeiro semestre de 2023, o índice de inadimplência no Banrisul (1,98%) ficou 79% inferior ao do sistema financeiro nacional (3,55%). “Em 2017, quando a inadimplência nacional era de 4,04%, o Banrisul estava levemente acima, mas agora a situação é bem mais otimista. Além disso, até agora, o banco tem se mostrado muito tímido em relação ao programa ‘Desenrola’. Disseram na Mesa que vão aderir em breve, mas já podiam ter feito. O Banco do Brasil já apresentou resultados positivos no primeiro semestre devido à renegociação de dívidas com os credores”, informou.
O economista se debruçou também sobre os números apresentados pelo Banco em relação ao cumprimento das metas pelos(as) empregados(as) e constatou várias inconsistências. Segundo ele, os dados fornecidos até agora são “nebulosos”, mas dá para afirmar que o percentual de 70% de bancários(as) atingindo 100% das metas, informado pelo banco, não corresponde à realidade. “Quando olhado de maneira geral, constatamos que 36% não atingiram 100%. Quando se divide DG e Rede, o índice e não atingimento dos 100% sobe para 41%. Há um paradoxo muito grande do que o banco diz e o que os dados apontam. Mas se olharmos apenas a DG, 75% do trabalhadores atingiram a meta de 100%, o que nos leva a crer que a direção do banco levou em conta só a DG no cálculo apresentado”, detalhou.
Há diferença brutal também entre cargos no que diz respeito ao índice de atingimento de metas, segundo Alisson. “Entre os analistas Júnior I, 99,7% atingiram a meta de 100%. Já entre os Operadores de Negócios (ONs), que são os vendedores de produtos, somente 34,49% chegaram aos 100%”, informou Droppa. Diante desse quadro de disparidade, Ana Betim chamou atenção para a necessidade de se exigir do banco mais clareza nessas informações. “Precisamos saber quais são as metas da DG e quais as das agências, para poder entender o que está acontecendo, porque todos sabemos que o pessoal das agências estão na linha de frente e trabalham muito. Além do mais, isso só fomenta a rivalidade entre colegas”. observou a diretora da Fetrafi-RS.
Durante a reunião, o Comando reforçou a importância de descentralizar o debate sobre a saúde do trabalhador. Raquel Gil falou sobre um importante passo que foi dado em Pelotas nesse sentido, com uma reunião da qual participou o diretor de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles. “A ideia é que isso seja feito em todas as regionais, como forma de fortalecer a nossa luta ao mesmo tempo que tratamos de questões específicas de cada região”, disse.
O Comando Nacional dos Banrisulenses volta a se reunir no dia 21 de novembro, antes e depois da reunião da Mesa de Metas, agendada para 14h.
Fonte: Maricélia Pinheiro / Verdeperto Comunicação / Fetrafi-RS